Como seria uma a terapia comigo?
No momento em que escrevo este texto tenho quase 10 anos de formado, neste período fiz muitas coisas… Uma formação clínica em Gestalt-terapia, uma residência em saúde mental, um mestrado em psicologia, fui professor e supervisor clínico, participei de vários cursos, grupos de estudo, publiquei alguns artigos, atuei no SUS e acumulo 6 anos de experiência no meu consultório particular. Mas afinal, no que todas estas experiências resultaram?
Um post de uma usuária do thereads me deu uma ideia de como responder esta pergunta. Ou melhor, foi o post que me fez levantar esta questão. A usuária relatou que teve uma psicóloga com quem se sentia muito à vontade, em momento algum se sentia julgada, direcionada, aprovada ou desaprovada. E que depois desta terapeuta nunca mais encontrou outra com quem tivesse a mesma sensação. Após este relato ela perguntou se seria uma questão de abordagem ou mais pessoal mesmo.
Vários psicólogos responderam de modo protocolar que não era papel do psicólogo julgar ou dizer em que direção a pessoa deva ir, neste momento vi uma conta que não fechava: Se é um consenso de que o psicólogo deva acolher e não julgar, por que a pessoa em questão precisou passar por vários até reencontrar um com quem não se sinta julgada ou direcionada?
A resposta para esta questão reside em detalhes. Obviamente se um paciente chega ao consultório com dúvidas se separar ou não de seu companheiro o psicólogo não poderia decidir por ele. Todavia, de modo sutil muitos psicoterapeutas conduzem o paciente ao que considerariam o ideal de sua concepção de saúde, canalizando a capacidade criativa de seus pacientes em suas concepções. Logo, acredito que muitos psicólogos direcionem os seus pacientes mais do que o que imaginam. O ato de não julgar é um consenso, o quão longe vai esta é uma questão mais complexa e delicada.
Destarte, olhando esta questão e toda a retrospectiva reconheço ter buscado os caminhos aonde esta postura de não julgamento e não diretividade estavam mais acentuados e esta direção dar o tom dos meu estilo de ser terapeuta, mais espontâneo e focado na experiência, no momento. Mas de modo algum do tipo que se diz menos teórico e mais prático. É justamente toda bagagem teórica no caminho que trilhei que me dão segurança de ser espontâneo e concentrado na experiência presente. Um professor do laboratório de pesquisa no mestrado costumava dizer que não trabalhávamos pela via da aplicação de técnicas, mas pela via de nossa implicação perante o outro, não por acaso minhas últimas publicações e meu mestrado falam relações da psicologia com o campo da arte procurando o caminho de um cuidado artesanal.
Por fim, trago uma passagem de uma das melhores obras da psicologia, o livro Gestalt-terapia. Fala do foco na experiência presente não só porque nos concentrando nela podemos encontrar os ecos e resquícios do passado, mas porque ela é o verdadeiro ponto de partida para o crescimento:
“E quanto mais estritamente a psicoterapia se concentra no aqui e agora concreto, mais insatisfatórios se mostram os preconceitos científicos, políticos ou sociais do que é a ‘realidade’, quer se trata da realidade perceptiva, social ou moral” (p.51)