Quando devo buscar a psicoterapia? Esta é uma pergunta que frequentemente é feita para psicólogos. Talvez você já tenha visto algum profissional a respondendo em programas de rádio, televisão, redes sociais ou até mesmo antes de chegar até aqui você passou por algum outro conteúdo de saúde mental. Certamente deve ter encontrado uma resposta mais ou menos assim: “Todos nós sentimos angústias, medos, inseguranças, ansiedade e uma certa dose de melancolia. Tais sensações fazem parte da experiência humana. Entretanto, se elas acontecem com uma intensidade e uma frequência muito alta estagnando o sujeito é hora de buscar ajuda profissional”.Esta é uma resposta funcional, simples, direta e clara. No nosso dia a dia estamos acostumados em lidar com um volume muito grande de informações de modo sintético. Mas tudo se torna mais interessante, espinhoso e complexo quando olhamos com mais atenção. Como diriam Erving e Miriam Polster, fundadores do Instituto de Gestalt-terapia de Cleveland, a psicoterapia é boa demais para ficar restrita aos adoecidos.
Esta resposta tradicional sobre quando buscar a psicoterapia estar orientada por uma concepção de cura. Em contrapartida o potencial da psicoterapia é melhor compreendido quando levamos em conta a noção de crescimento. E não se trata apenas de uma questão de ampliação do potencial que a clínica poderia atingir abrangendo tanto aqueles que estão em situação agravada de sofrimento mental como também os que estão relativamente estabilizados e buscam o crescimento pessoal. Mas de uma melhor compreensão própria terapia e do modo como as vicissitudes dos aspectos sociais incidem em cada um. Quando desconsideramos a dimensão das expectativas e pressões depositadas sobre o sujeito caímos no risco de considerar que a sociedade é perfeita e harmoniosa suficiente para que todo e qualquer indivíduo em boa forma psicológica encontre o seu lugar e funcione de modo bem ajustado. O que se trata de uma ideia ingênua. Como afirmava o psicoterapeuta americano e crítico social Paul Goodman, a psicoterapia eficiente é um risco social.
Entretanto, apesar das diferenças entre as conotações de “cura” e “crescimento” não existe uma oposição entre elas. Como se o foco fosse favorecer um crescimento em lugar de uma cura ou vice e versa. Na verdade, seria mais preciso dizer que as pessoas se curam quando crescem. Quando falamos estritamente de cura criamos uma falsa expectativa de que simplesmente os sintomas do adoecimento mental desaparecerão e a pessoa seguirá sua vida normalmente sem nenhuma mudança significativa no modo como se relaciona comas pessoas e as instituições ao seu redor. Esta ideia não se sustenta porque nossa mente não existe descolada do mundo real que é permeado por pressões, cobranças e expectativas dirigidas ao sujeito.
Deste modo, o norte da terapia é promover uma ampliação consciência que nos faz ver com mais nitidez o lugar que ocupamos no mundo. Possibilitando sairmos de uma postura enrijecida e ao passo que tomamos novos rumos e novas atitudes assumimos as rédeas da própria existência em busca de uma relação mais satisfatória com nosso meio. Daí a cura, remissão dos sintomas, torna-se uma consequência.